Milhões de idosos com problemas de visão correm o risco de serem diagnosticados erroneamente com deficiências cognitivas leves, segundo um novo estudo da Universidade do Sul da Austrália, quando, na verdade, o problema real é a deterioração da visão. O estudo foi publicado na Scientific Reports.
Testes cognitivos que dependem de tarefas visuais podem apresentar resultados distorcidos em até um quarto das pessoas com mais de 50 anos que têm problemas visuais não diagnosticados, como catarata ou degeneração macular relacionada à idade (DMRI).
“A degeneração macular relacionada à idade é uma das principais causas de perda de visão em idosos. A doença não causa perda completa da visão, mas afeta severamente a capacidade das pessoas de ler, dirigir, cozinhar e até reconhecer rostos. No entanto, a doença não tem relação com a cognição”, explica o oftalmologista Fernando Henrique Cardoso Nunes, especialista em retina da Singular Oftalmologia.
Os pesquisadores da UniSA recrutaram 24 participantes com visão normal para completar dois testes cognitivos – um envolvendo tarefas reativas dependentes da visão e outro baseado na fluência verbal.
Usando um conjunto de óculos para simular a degeneração macular, os participantes pontuaram muito mais baixo no teste cognitivo, envolvendo tarefas de tempo de reação, do que sem os óculos. Não houve diferença estatística com os testes de fluência verbal ao usar os óculos.
Os autores do estudo alertam para o fato que os resultados são um forte lembrete de que as deficiências visuais – que afetam aproximadamente 200 milhões de pessoas em todo o mundo com mais de 50 anos – interferem de maneira negativa nas pontuações cognitivas quando os testes envolvem habilidades visuais.
Uma pontuação errada em testes cognitivos pode ter consequências devastadoras, levando a mudanças desnecessárias nas circunstâncias de vida, trabalho, financeiras ou sociais de uma pessoa. Por exemplo, se uma pontuação equivocada contribuir para um diagnóstico de comprometimento cognitivo leve, ela pode desencadear problemas psicológicos, incluindo depressão e ansiedade.
“As pessoas com degeneração macular relacionada à idade já enfrentam vários problemas devido à perda de visão. Uma avaliação cognitiva imprecisa é um fardo adicional que eles não precisam carregar”, afirma Fernando Nunes.
Segundo os autores do estudo, as deficiências visuais são frequentemente negligenciadas em pesquisas e ambientes clínicos, com uma visão reduzida subestimada em até 50% dos idosos. E com esse número só tende a aumentar, conforme a população mundial envelhece, é fundamental que os pesquisadores neurodegenerativos avaliem a visão do paciente idoso que irá se submeter a uma avaliação da cognição.